Tradição Tuga: Reizinhos fumadores

Porque sofre de asma, Carla Teixeira, com 17 anos, nunca pegou num cigarro e deve ser uma das poucas excepções dos habitantes da aldeia de Vale Salgueiros, no concelho de Mirandela, incentivados a fumar a partir dos cinco anos de idade, mas apenas na festa dos Reis.
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"Eu já fumei dez cigarros", gabava-s-e André Rouxinol, de 10 anos, confessando que ficou "um pouco tonto" quando alguém lhe deu um charuto.
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Gonçalo Santos, de oito anos, assumia-se como "o mais valente" deste ano, garantindo que já tinha fumado "23 cigarros em dois dias"
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Por dois dias (5 e 6 de Janeiro) ignoram-se todas as campanhas anti-tabágicas, os objectivos da nova lei do Tabaco e até as regras do bom senso. "Isto não tem nada a ver com as leis do país, tem a ver com os nossos costumes que queremos preservar", reagiu Manuel Teixeira, não fumador que não se sente incomodado com os cigarros dos outros.
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A tradição pode ser chocante para quem vive fora desta aldeia mas vem "desde o princípio do mundo", comentou Zulmira Borges, de 70 anos, incapaz de explicar a origem disto.
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"Isto vem de tempos antigos e é um orgulho ver a garotada a dar seguimento à tradição", argumentava José Ferreira, com 73 anos. "À minha neta de oito anos dei-lhe dois cigarritos e mete graça vê-los ali de cigarro na mão a chupar", acrescentava, mostrando um certo orgulho neste estranho incentivo.
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O septuagenário insiste que a tradição se deve manter e recorda que na sua meninice tinha de ir roubar "dois ou três quilos de azeitonas" aos olivais dos vizinhos, "para vender aos comerciantes" em troca de um maço de tabaco. "Agora há fartura, é deixá--los fumar", dizia entre risos.

(Público 7/1/2007)